CMM E QUALIDADE DE PRODUTOS DE SOFTWARE NA DATAPREV

Heitor M. Quintella

UFF

hquintel@unisys.com.br

Rosana Fernandes Osório

Dataprev

rosana.osorio@rj.previdenciasocial.gov.br

 

ABSTRACT

This article gathers the results of a research carried through the process of the development of 20 information systems projects and their respective final products.

Although all information technology evolution, many problems still persist in the conduction and implementation of information system projects, mainly concerned about stated periods, costs and user satisfaction.

The problem now presented was to know which would be the impacts in the software quality in DATAPREV (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social), under the customer’s point of view, caused for the use of the  practices and proposals of the CMM (Capability Maturity Model) in the development of software projects.

The sample was taken from DATAPREV.

The objective of the research was first to identify in which level of the CMM is each software project classified. A second goal was to evaluate the perception that the users have about the quality of the software generated by the projects.

The used theoretical referential was the instrument to evaluate the quality of the service of Valerie A. Zeithaml, A. Parasuraman and Leonard L. Berry, and the Software Capability Maturity Model  de Whatts Humphrey.

Keywords: quality, CMM, systems

 

RESUMO

Este artigo reúne os resultados de uma pesquisa realizada ao processo de desenvolvimento de 20 projetos de sistemas e seus respectivos produtos.

Essa investigação é parte integrante do projeto: Fatores Humanos e Tecnológicos da Competitividade de Quintella,97 que tem por finalidade estudar como a interação entre os skills e a tecnologia interagem para promover  competitividade

Apesar de toda a evolução da tecnologia da informação, muitos problemas ainda persistem quanto à condução e implementação de projetos de sistemas de informação, principalmente quanto a prazos, custos e satisfação dos usuários.

O problema que hora se apresentava, era saber quais seriam os impactos na qualidade de produtos de software na Dataprev (Empresa de tecnologia e Informações da Previdência Social), sob a ótica do cliente, ocasionados pela utilização das práticas e proposições do CMM (Capability maturity Model) no desenvolvimento de projetos de software.

A amostra foi retirada da Dataprev.

O objetivo da pesquisa foi primeiro identificar em que nível do CMM está classificado cada projeto de software. O segundo foi avaliar a percepção que os usuários têm da qualidade dos produtos de software gerado pelos projetos.

O referencial teórico utilizado foi o instrumento para avaliar a qualidade do serviço (SERVQUAL) de Valerie A. Zeithaml, A. Parasuraman e Leonard L.Berry e o Modelo de Maturidade de Capabilidade de Software (CMM) de Whatts Humphrey.

Palavras Chaves: qualidade, CMM, sistemas

 

INTRODUÇÃO

 

A introdução da tecnologia de informação está ocasionando nas organizações e nas sociedades mudanças radicais, alterando não só a forma de administrar as empresas, mas também as exigências dos clientes com relação à qualidade dos seus produtos. Uma das razões que impulsiona as organizações a buscarem a qualidade é a competitividade.

Apesar de toda a evolução da tecnologia da informação, muitos problemas ainda persistem quanto à condução e implementação de projetos de sistemas de informação, principalmente quanto a prazos, custos e satisfação dos usuários.

O cenário atual apresenta um contexto de múltiplas opções tecnológicas, crescente exigência dos clientes, limitações do corpo técnico em relação as ferramentas, seja pela busca do conhecimento que ainda não domina, neste caso, implicando nos custos e no aumento da duração dos projetos, ou pela tentativa de adaptar a solução encontrada, a tecnologia que domina, a implicação, neste caso seria a incorporação de requisitos falsos criados tão somente pelas restrições da plataforma tecnológica do ambiente, uso inadequado e/ou inexistência de métricas, o sucesso dos sistemas de informação está fortemente influenciado pelos projetos que os desenvolvem.

Mesmo em organizações indisciplinadas, entretanto, alguns projetos isolados produzem excelentes resultados. Quando tais projetos são bem sucedidos, é geralmente graças a esforços heróicos de uma equipe dedicada, e não através da repetição de métodos provados de uma organização com um processo de software maduro. Na falta de um processo de software que abrange toda a organização, a repetição dos resultados depende inteiramente de se ter algumas pessoas disponíveis para o próximo projeto. Sucesso que depende da disponibilidade de pessoas específicas não provê bases para a melhoria da produtividade e qualidade na organização por um longo período. Melhoramentos contínuos só podem ocorrer através esforços focados e sustentados na direção da construção de uma infra-estrutura de processo de efetivo desenvolvimento de software e práticas de gestão.

Em virtude do cenário apresentado, foi realizada uma pesquisa, que teve como objetivo avaliar se a adoção do CMM (Modelo de Maturidade de Capabilidade de Software) no desenvolvimento de projetos de software, promove a melhora da qualidade dos produtos criados, tendo em vista a percepção dos respectivos usuários destes produtos.

 

METODOLOGIA

 

Para realização dessa pesquisa, foi utilizado o método hipotético dedutivo de Popper, que prega que o conhecimento científico evolui a partir de hipóteses.

A partir deste ponto, Popper constrói sua visão do método científico, o racionalismo crítico, e também do conhecimento em geral. Ambos progridem através do que ele chama de conjecturas e refutações. Isto significa que a busca do conhecimento se inicia com a formulação de hipóteses, que por sua vez, procuram resolver problemas, e continua com tentativas de refutação dessas hipóteses, através de testes que envolvem observações ou experimentos.

HIPÓTESE:

O uso do CMM (Modelo de Maturidade de Capabilidade de Software) no desenvolvimento de projetos de software promove a melhora da qualidade percebida pelo usuário.

 

 

POPULAÇÃO

O problema dessa pesquisa está representado pela Dataprev – Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social. A empresa tem como missão: dotar a Previdência e Assistência Social de soluções em tecnologia da informação, com segurança, disponibilidade e utilidade, a preços competitivos.A empresa possui representação em cada estado tendo sua matriz localizada em Brasília. A pesquisa foi feita no seguintes estados: Rio de Janeiro, Brasília, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo.

 

AMOSTRA

Foram escolhidos 20 projetos de sistemas da Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social), relacionados no quadro da figura 1 abaixo.

 

Figura 1: Projeto de Sistemas da Dataprev

Cliente

Projeto de Software

AGU - Advocacia Geral da União

Sistema de Controle de Ações Judiciais - SICAU WEB

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

DW – Arrecadação

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Procuradoria na Internet – PROCNET

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Prisma Empresa via WEB

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Homologação das Informações da Previdência Social - HIPNET

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Administração de Benefício por Incapacidade - SABI

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Compensação Previdenciária - COMPREV

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Controle de Óbito – SCO

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Cadastro Nacional das Ações Fiscais –  CNAF - Gerenciamento

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

SIPPS – Sistema Informatizado da Previdência Social.

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Atualização de vínculos e Remunerações do CNIS - CNISVR

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Acertos de Recolhimentos do Contribuinte Individual - SARCI

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Autorização de Acesso - SAA

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Histórico de créditos via WEB - HISCRE

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Informações Gerenciais de Informação - INFORMAR

INSS - Instituto Nacional Seguro Social

Sistema de Controle e tramitação de Recursos - RECNET

DATAPREV

Sistema de Administração de Recursos Técnicos - SART

DATAPREV

Ponto Eletrônico - DATAPONTO

MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social

Conselho de Recurso da Previdência Social – CRPS

MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social

Cadastro Nacional Entidades Filantrópicas – CNES

 

A expectativa era relacionar um número maior de projetos, mais era necessário que os projetos de sistemas tivessem a mesma  arquitetura.

As diretrizes da Dataprev definem o uso que a organização fará da tecnologia de informação, buscando sempre um elevado grau de consistência e aderência da informática à estratégia da Organização. Sendo assim, os projetos selecionados para a pesquisa, são projetos implementados com arquitetura de 3 camadas.

A arquitetura 3 camadas possui as seguintes características:

Aplicações N-camadas são mais facilmente modificáveis para suportar alterações nas regras de negócio.

Aplicações N-camadas são altamente escaláveis.

Uma arquitetura N-camadas oferece melhor performance de todas as arquiteturas de aplicação.

A separação lógica das camadas também permite a alteração das plataformas onde as camadas estão distribuídas, resultando em um alto grau de escalabilidade. Enquanto ocorrem transações, tempos de resposta, ou mudanças de taxa de transferência, uma camada pode ser movida da plataforma onde é executada par a outra mais poderosa – ou pode ser dividida entre outras máquinas – sem impactar as outras camadas.

A construção e a manutenção de aplicações N-camadas são mais baratas, pois a maior parte do código é pré-construído ou compartilhado por outras aplicações.

Os projetos selecionados foram implantados nos últimos 03 anos.

 

INSTRUMENTO DE MEDIDA

 

Utilizou-se como referencial de medida para avaliação da qualidade dos produtos de software o questionário extraído de Zeithaml et al (1990) - SERVQUAL - e para verificação em que nível do CMM os projetos de software estão enquadrados, utilizou-se o questionário elaborado para esta dissertação baseado no Modelo de Maturidade de Capabilidade de Software, versão 1.1, M.C. Paulk et al (1993).

 

COLETA DE DADOS

 

A pesquisa foi aplicada através de duas etapas:

A primeira etapa consistiu em pesquisa via e-mail, por meio de questionário, com 60 gerentes e/ou responsáveis pelo processo de desenvolvimento dos projetos de software, com objetivo de identificar em que nível do CMM está classificado cada projeto de software.

Os grupos foram definidos de acordo com o seguinte critério:

O projeto pertencerá ao maior nível cujo escore médio, obtido pelo CMM, for maior ou igual a 3.

Desta forma, foi observado que:

9 projetos atingiram escore médio ³  3 apenas no nível 1;

5 projetos atingiram escore médio ³ 3 no nível 2;

3 projetos atingiram escore médio ³ 3 no nível 3;

2 projetos atingiram escore médio ³ 3 no nível 4;

1 projeto não atingiu escore médio ³ 3 em nenhum dos níveis. Este projeto não participou da análise estatística.

Foram definido, para fins de análise estatística, dois grupos:

Grupo 1: 9 projetos de nível 1;

Grupo 2: 10 projetos de nível 1 evoluindo para nível 2.

Segundo Paulk (1993) os projetos de sistemas que estão classificados no nível 1 do CMM, apresentam as seguintes características:

No Nível Inicial, a organização tipicamente não fornece um ambiente estável para desenvolvimento e manutenção de software. Quando uma organização não dispõe de práticas de gestão bem estabelecidas, os benefícios das boas práticas de desenvolvimento de software são minados pelo planejamento ineficiente e por sistemas onde os compromissos são sempre reativos, ou sejam uma reação a algum acontecimento não planejado.

Durante uma crise, os projetos tipicamente abandonam os procedimentos que foram planejados e partem para a codificação e testes. O sucesso depende inteiramente de ser ter um gerente excepcional e uma equipe de software madura e eficiente. Ocasionalmente, gerentes de software capazes e que dispõem de força podem resistir às pressões para obter-se atalhos no processo de software; mas quando eles deixam o projeto, a sua influência estabilizadora se vai com eles. Mesmo um forte processo de desenvolvimento não pode superar a instabilidade criada pela ausência de práticas sólidas de gestão.

No Nível Repetível, as políticas de gestão de projeto de software e os procedimentos para implementar aquelas políticas são estabilizados. O planejamento e a gestão de novos projetos são baseados na experiência com projetos similares. Um objetivo alcançado com o nível 2 é a institucionalização dos processos para os projetos de software, que permitem as organizações repetir as práticas bem sucedidas desenvolvidas em projetos anteriores, embora os processos específicos implementados pelos projetos possam diferir. Um processo efetivo pode ser caracterizado como experiente, reforçado, treinado, medido e capaz de melhorar.

Os projetos nas organizações de nível 2 têm instalado controles básicos de gestão de software. Os compromissos realistas do projeto são baseados em resultados observados em projetos anteriores e nos requisitos do projeto atual. Os gerentes de software do projeto acompanham os custos, os cronogramas e as funcionalidades do software; os problemas com compromissos são identificados quando surgem.

Os requisitos de software e os produtos de trabalho desenvolvidos para satisfazê-los são congelados e a integridade dos mesmos é controlada. Os padrões do projeto de software são definidos e a organização garante que eles sejam seguidos fielmente. O projeto de software trabalha com os seus subcontratados, se existirem, para estabelecer uma forte relação cliente-fornecedor.

A segunda etapa consistiu em pesquisa via e-mail, por meio de questionário, com 60 usuários e/ou equipes de atendimento dos produtos de software, com objetivo de avaliar as percepções que os usuários têm da qualidade dos produtos de software gerados pelos projetos.

 

Objetivo 1. Análise dos Aspectos do SERVQUAL.

 A tabela 2 fornece a média, erro padrão (EP), mínimo, máximo dos escores dos aspectos do SERVQUAL segundo o grupo. O valor da estatística t e o respectivo nível de significância (p valor) foram calculados para os cinco aspectos e para o geral. O aspecto geral corresponde as 19 questões do SERVQUAL.

 

Tabela 2. Análise descritiva e estatística dos aspectos do SERVQUAL segundo o grupo.

Aspecto

Grupo

n

Média

E.P.

Mínimo

Máximo

t

p valor

Elementos TangÍveis

I

9

      4,50

0,32

3,5

6,25

-1,38

0,18 

 

II

10

5,06

0,26

3,5

6,17

 

 

Confiabilidade

I

9

4,17

0,34

3

5,8

-1,45

 0,16

 

II

10

4,96

0,42

3,13

7

 

 

Capacidade de Resposta

I

9

4,91

0,28

3,5

6

-1,84

 0,082

 

II

10

5,65

0,29

3,67

6,5

 

 

Segurança

I

9

4,67

0,25

3,67

5,67

-2,11

 0,049

 

II

10

5,60

0,35

2,67

6,5

 

 

Empatia

I

9

4,84

0,22

4

6

-1,84

 0,082

 

II

10

5,51

0,28

3,5

6,38

 

 

ServQual Geral

I

9

4,62

0,21

3,92

5,63

-2,13

 0,047

 

II

10

5,36

0,26

3,47

6,1

 

 

E.P.: Erro Padrão;

 

 

 

 

 

 

 

 

Conclusão: Analisando os aspectos do SERVQUAL observou-se,  que o escore médio do aspecto segurança (p = 0,049) e do geral (p = 0,047) do grupo 2 foi significativamente maior que do grupo 1. Isto mostra que, a expectativa dos usuários do grupo 2 relativo a “segurança” ou de uma forma “geral” estão de acordo com a avaliação dada pelos gerentes segundo o CMM (nível 1 evoluindo para nível 2).

Podemos dizer que, existe uma tendência (isto é, p valor entre 0,05 e 0,10) do grupo 2 apresentar escore médio dos aspectos Capacidade de Resposta e Empatia superior ao do grupo 1. A perda da significância estatística foi devida ao número pequeno de casos estudados. Provavelmente, para uma amostra maior de projetos, esta diferença será significativa.

Segundo um estudo para analisar a avaliação da qualidade do serviço, Valerie A. Zeithaml, A. Parasuraman e Lenard L. Berry realizaram em 1983 um estudo sobre como os clientes e fornecedores do serviço avaliam a qualidade do serviço.

Com os resultados obtidos, foi desenvolvido um modelo conceitual da qualidade da qualidade do serviço e um instrumento para avaliar a qualidade do serviço (SERVQUAL).

O SERVQUAL é um instrumento de escala múltiplo com alto nível de viabilidade e validez, baseado na definição conceitual da qualidade do serviço e em cinco dimensões que encontraram-se na pesquisa feita, que ajuda as empresas a compreender melhor as expectativas e percepções que os clientes têm com respeito ao serviço.

As cinco dimensões foram definidas da seguinte maneira:

1.     Elementos tangíveis: Aparência das instalações físicas, equipamento, pessoal e materiais de comunicação.

2.     Confiabilidade: Habilidade para realizar o serviço de forma confiável precisa e consistente.

3.     Capacidade de resposta: Disposição e vontade para ajudar os clientes e proporcionar o serviço prontamente.

4.     Segurança: Conhecimentos e atenção mostrados pelos empregados e suas habilidades para transmitir confiança, segurança e credibilidade.

5.     Empatia: Atenção individualizada, facilidade de contato (acesso) e comunicação que as empresas oferecem aos clientes.

 

 

CONCLUSÃO

 

A hipótese foi corroborada, logo considera-se que as práticas utilizadas pelo Modelo de Maturidade de Capabilidade de Software promove a melhora da qualidade, segundo a percepção do usuário.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

PAULK, M.C.; CURTIS, B.; CHRISSIS, M.B. and WEBER, C.V. Capability Maturity Model for Software. Version 1.1, Software Engineering Institute, CMU/SEI-93-TR-24, 1993.

 

Quintella, H.  Fatores Humanos e Tecnológicos da Competitividade, Niterói: UFF, Relatório de Pesquisa, 1997

 

ZEITHAML, Valarie A.; PARASURAMAN, A.; BERRY, Leonard L. Delivering Quality Service. New York: The Free Press, 1990.