Remuneração Estratégica, Qualidade e Meio ambiente

na competitividade  do setor energÉtico

 

Heitor Luiz M.  de M. Quintella

 

Rua Professor Manoel Ferreira, 88 apto 306

22451-030  Gávea  Rio de Janeiro – RJ

hquintel @unisys.com.br

 

Resumo

                Este artigo apresenta algumas diretrizes metodológicas de estruturação de processos de remuneração estratégica voltados para alavancagem da Qualidade e da Proteção ao meio ambiente. Usando-se o Modelo IBM (Cortada e Quintella, 93) de compensação como referencial teórico consultaram-se 12 empresas do setor energético para identificar como executivos e gerentes contemplavam o futuro da estimulação da Qualidade e do  Respeito ao meio ambiente através  de Remuneração estratégica. Determinam-se assim alguns elementos da diretriz estratégica que  poderá ser predominante nos próximos anos neste setor importante da vida nacional.

           

 

Palavras-chave – Gestão da qualidade, remuneração estratégica, gestão de processos.

 

Abstract

 

This article presents some methodological guidelines to structure processes of strategic pay oriented towards leveraging  Quality and environmental concern. Using IBM compensation model (Cortada et Quintella, 93) as a theoretical reference, 12 energy companies were studied to identify how executives and managers envisaged the future of stimulation of Quality and environmental concern by means of strategic pay. Thus it is possible to determine some elements of strategic direction that could prevail in the next years in this important economic sector.

           

 

Key-words – Quality management, strategic pay,  process management

 


 

1. Introdução

Este artigo é dedicado à discussão de  processos de remuneração estratégica e como eles estão sendo percebidos pelos executivos e gerentes de empresas de energia. Analisando alguns padrões encontrados em empresas estrangeiras, procurou-se descobrir se as mesmas tendências poderiam ser observadas em empresas de energia no Brasil. Ele ilustra exemplos reais e casos de pesquisa conduzidos pelo autor. Com base nos métodos apresentados em (Cortada et Quintella,93), concentra-se a atenção no passo inicial do método de remuneração estratégica  (Lawler, 96) que, em linhas gerais, preconiza a remuneração variável, por skills e desempenho.  

As estratégias de remuneração das empresas de Energia no Brasil têm sido orientadas pelo modelo clássico de compensação que se caracteriza por valorizar a senioridade, isonomia por categoria profissional, estabilidade e carreiras de longo prazo. Com as perspectivas de privatização do setor, as empresas estimularam intenso treinamento visando preparar os gerentes e executivos para uma nova cultura de negócios. Muitas destas empresas irão se encontrar virtualmente na condição de start-ups, por este motivo decidiu-se usar o modelo apresentado em (Quintella et Toledo, 01) para identificar os fatores críticos de sucesso -  FCS no setor energético. Encontrou-se como um dos fatores principais a  remuneração estratégica.

 

Tabela I – Prevalência da remuneração estratégica como fator crítico de sucesso na transição do setor energético

Fatores de Start-up de Porter

Percepção de importância pelos pesquisados

Remuneração estratégica

84%

Produtos e mudança no produto

80%

Margens e lucros

80%

Comportamento do consumidor

60%

Marketing

50%

 

 Dentro da remuneração estratégica pesquisou-se em seguida quais as formas de remuneração preferidas e que valores  devem ser priorizados, na visão de 31 executivos e  82 gerentes. A amostra foi composta pelas empresas seguintes: Furnas, Chesf, Copel, Light, Cerj, CESP, Eletropaulo, CEMIG, Nuclen, Nuclep, Empresa A, Empresa B. (Duas das empresas solicitaram que não fosse revelada a sua participação na pesquisa.)

 

2. Cultura de Negócios, Mudança  e Remuneração Estratégica

 

No modelo de análise da cultura organizacional apresentado em (Alvarez et.al., 95) Utiliza-se o modelo difusionista. Basicamente, este modelo trabalha com o conceito de átomo cultural que é o traço cultural, que são os elementos constituintes elementares que como fios delicados mas entrelaçados tecem o pano de uma cultura organizacional. Neste modelo trabalha-se, via de regra com o conjunto: Visão, valores (neste caso com a opção de incluir os princípios da qualidade e de respeito ao ambiente), fundamentos culturais, estrutura,(esses tres primeiros associados à ETIQUETA CULTURAL de BERNE)  comunicações, processo de tomada de decisão, avaliação de desempenho, compensação (neste caso com a opção de usar  remuneração estratégica), programas de RH, contrato de trabalho, skills ou competências individuais, capacidade organizacional,(todos esses associados à CULTURA TÉCNICA de BERNE) liderança, moral,(neste caso lidando com clima organizacional,  motivação, lealdade, criatividade,  etc..) e tolerância à mudança(Esses três últimos associados ao CARÁTER CULTURAL DE BERNE) . (Ver figura 0)

 

 

 

 

Figura 0 – os quinze traços culturais que tecem o pano do modelo IBM de Cultura de Negócios

 

À associação de traços culturais dá-se o nome de complexo cultural. Alguns modelos de análise cultural especialmente concebidos para trabalhar com fundamentos culturais e programas de RH costumam estudar o significado e função de complexos culturais como: rituais, festividades, etc... . Em nosso caso preferiu-se grupar de forma arbitrária alguns traços culturais sob o rótulo de dimensões culturais (ao todo cinco dimensões) (Quintella et Souza, 01).  A associação de complexos denomina-se padrão cultural (Wissler) e este  define a forma sub-cultural de um sistema empresarial, setorial, regional, nacional, etc... . 

Este modelo  permite que se pesquise que fatores são mais importantes na criação dae harmonia em que devem atuar esses traços culturais para obtenção de um padrão cultural  competitivo. Para identificar a potência de um padrão cultural usa-se o conceito de área cultural, que compreende o conceito de círculos concêntricos de conjuntos de pessoas a partir de um centro cultural constituído  de lideranças capazes de influenciar os demais círculos.

Em nosso caso, selecionou-se como centro cultural este núcleo de executivos e gerentes. O objetivo da pesquisa foi determinar qual a sua percepção sobre o papel  da remuneração estratégica controlada por indicadores de desempenho e dos valores da qualidade do respeito ao meio ambiente. Como importantes traços culturais eles podem ser os elementos chave no disparo das mudanças que alavancarão os demais traços culturais do setor energético.  Na figura I sumariza-se o contexto da pesquisa à luz do modelo difusionista.

 

 

                                                           Figura 1 – Contexto da pesquisa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Neste estudo destaca-se o traço cultural da compensação e entende-se por remuneração estratégica o modelo sumarizado na figura 2, a tradicional considera apenas remuneração funcional e algumas formas variáveis e indiretas.

 

 

Figura 2 – O conceito de remuneração estratégica segundo Coopers & Lybrand, 96.

 

 

3. Análise dos traços culturais (formas de remuneração e  valores  priorizados)


            Nesta pesquisa focalizou-se em primeiro lugar quais as formas de remuneração  preferidas pelos entrevistados, segundo o modelo empregado por (Lawler, Mohrman et Ledford, 95) e testado no Brasil por (Quintella et Lorandes, 99). Os tipos de Remuneração mais destacados foram:  salário base, participação nos lucros, participação nas vendas, incentivo à equipe, informação aberta, incentivo individual, incentivos flexíveis e  skills. (ver Figura 3). A conjectura importante na questão foi condicionar as escolhas à mobilização para

 mudança.

 

Figura 3 - Preferências nas formas de remuneração

 

 

Como se pode ver, existe uma preferência ainda centrada em paradigmas clássicos de remuneração (salário base, incentivo individual, participação nas vendas), mas com sinais evidentes de atração – ainda que modesta, se comparada com a prática de setores muito dinâmicos como informática e telecomunicações - pelos novos padrões de remuneração estratégica (participação nos lucros, incentivo em equipe, informação aberta,incentivos flexíveis e skills).

Em segundo lugar investigou-se que valores devem ser priorizados na transição e os resultados encontrados estão expostos na tabela II. A valorização de habilidades (Skills) de caráter técnico, de negócios e dos clientes ainda não estão dominando as preocupações do centro cultural do setor energético, contudo qualidade e respeito ao meio ambiente estão no topo da lista de suas preocupações.

 

 

% Respostas

SKILLS

IND. DESEMP.

QUALIDADE

AMBIENTE

Gerentes

16

25

100

80

eXECUTIVOS

50

76

76

50

 

 

4.      Comparação com outros setores

 

Recentes estudos  (Quintella, 99) mostraram que em primeiro lugar existe uma deficiência na adoção de valores da qualidade, fácil de ser observada em empresas de todos os ramos.  Por outro lado a valorização de skills aumenta consideravelmente, em paralelo com os indicadores de desempenho, em setores onde a competição é forte.

No setor energético verifica-se uma inversão desses valores. Primeiramente, qualidade ambiente são priorizados e em segundo lugar, skills e indicadores de desempenho  ficam em segundo plano. É possível conjecturar-se que isso ocorre por ser o setor menos competitivo  que os demais e por não se haver iniciado o processo de privatização.

Resta analisar se ocorre uma conseqüente perda de competitividade e qualidade em termos internacionais por parte dessa empresas. Outros setores que passaram por essa transição tiveram um longo caminho a percorrer quando a competição entrou no mercado nacional. 

 

 

5.  Conclusão

 

Mais importante do que chegar a conclusões sobre o setor energético, é importante encarar a presente pesquisa como um primeiro estudo exploratório que aponta para problemas típicos de setores em transição.

Os resultados encontrados servem para indicar que  existem  causas importantes de perda de competitividade ligadas ao padrão cultural exibido pelas empresas do setor. Bons processos consultivos de transformação de negócios podem ajudar nas mudanças necessárias.  

 Em artigos subsequentes pretende-se estudar outros aspectos de processos focalizados no cliente, relacionados com a metodologia apresentada em artigos anteriores, bem como estender-se a presente pesquisa a uma amostra maior de empresas.


 

Bibliografia

 

1.(Cortada et Quintella, 1993) Cortada, J., H. Quintella, TQM – Gerência da Qualidade Total, São Paulo, Makron Books, 1993. 356 pgs ( ISBN 85-346-0318-9)

 

2.(Quintella, et Toledo 2001) Quintella, H. e R. Toledo, Critical Success Factors in Franchise Start-up: BR – Mania Case, Annals of the BALAS 2001 Conference – Business Association of Latin American Studies – School of Business administration Ahlers Center for International Business – University of San Diego, San Diego, april 2001. CD Rom and Internet). 7 pgs. (business.sandiego.edu/ib/balas/agenda/detailedagenda.html – 101k

 

 3. (Lawler, 96) LAWLER, Edward E. From the ground up: six principles for building the new logic corporation. San Francisco: Jossey-Bass, 1996 (ISBN 0-7879-0241-1) 316 pgs.

 

4.(Alvarez, M.  et al)   Alvarez, M., et al, Relatório IBM de Transformação  na Votorantim, Recife: IBM Consulting Group, fev 1995. 308 pgs.

 

6.(Quintella et Souza, 2001) (A) Quintella,H., L . Souza,  Cultura de negócios: Uma perspectiva dos estudos sobre o comportamento organizacional nas empresas de TV educativa, Tendências do Trabalho, num 321, mai. 2001, pgs 16 – 20, Rio de Janeiro: SUMA ECONÔMICA, 2001. (ISSN 0101 – 1669)

 

7.(Quintella et Souza, 2001) (B) Quintella,H., L . Souza,  Cultura de negócios:Estudo de caso em emissoras de TV educativa, Enanpad 2001, Encontro  da Associação Nacional dos Programas de Pós Graduação em Administração, Campinas, set. 2001,  14 pgs

 

8. (Lawler, Mohrman et Ledford, 95)    Lawler, E, S. Mohrman e  G. Ledford. Creating High Performance Organizations.  San Francisco, Cal.: Jossey Bass, 1995. 186 pgs. (ISBN 0-7879-0171-7)

 9. (Quintella, Lorandes et Silva, 99)    Quintella, H., E. Lorandes et S. Silva,  Sistemas de remuneração e engajamento de colaboradores, Tendências do Trabalho, num 302, out. 1999, pgs 20 – 22, Rio de Janeiro: SUMA ECONÔMICA, 1999. (ISSN 0101 – 1669)

 

10. (Quintella, 1999)  Quintella, H.,  Processos Chave focalizados na Qualidade (Falta de consciência da missão competitividade) SBPO 1999, Simpósio da Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional, 6 pgs.

 

11. (Coopers & Lybrand,1996) Coopers & Lybrand, Remuneração Estratégica – A nova vantagem competitiva, São Paulo: Atlas, 1996.  298 pgs (ISBN 85-224-1387-8)